TRANSAMAZÔNICA, A VIAGEM IMPOSSÍVEL!

A primeira pessoa a cruzar a Transamazônica pedalando foi uma neozelandesa de 52 anos, em 1978... em uma bike urbana!
atualizado em 25 nov 2024

O cenário descrito para Louise Sutherland sobre a Amazônia não era animador; insetos e doenças exóticas, animais selvagens, uma selva completamente desabitada e vilões que iriam roubá-la e matá-la sem que sua família na Nova Zelândia soubesse algum dia seu paradeiro. Neste contexto, o fato de não falar português era só a cereja do bolo.

Apesar de acumular trinta anos pedalando – em cinquenta de vida – resistia em usar as marchas e só com muita insistência trocou o reboque da bicicleta por bolsas laterais. Em outros cinquenta países o modo simples funcionou, e até aquele momento havia tido um único pneu furado – que por sinal ela não sabia trocar. Ser bem-humorada e uma enfermeira hábil ajudou a sobreviver em ambientes bem diversos.

A vida de Louise se assemelha a de muitos de nós. Ou pelo menos a vida que muitos de nós gostaríamos de ter. Alternava períodos de trabalho árduo com o objetivo único de ter recursos para pedalar. Como planejamento financeiro nunca foi seu forte – mas seu anjo da guarda sim – contou inúmeras vezes com a solidariedade humana brotando em seu caminho, derrubando por terra os incontáveis avisos para tomar muito cuidado, em especial, com as pessoas!

Não havia como comparar as bucólicas estradas europeias com a selvagem Transamazônica, mas ao mesmo tempo, determinados raciocínios cutucavam o inquieto cérebro de Louise, como o fato de que uma obra alardeada mundialmente como gigantesca e desafiadora para a engenharia não seria construída em um lugar onde não precisasse passar ninguém! Além do mais, imaginava que em alguns anos talvez não sobrasse vitalidade para desafios daquelas proporções.

Desembarcou no Brasil sem nunca ter pedalado a bicicleta – sequer a montou – e precisou de ajuda para encher os pneus, com bicos “modernos”. Venceu a burocracia brasileira e conseguiu uma autorização do órgão administrador da estrada que lhe serviu de salvo conduto, abriu portas, mas não evitou uma viagem recheada de tombos e tornozelos inchados, picadas que não cicatrizavam e mosquitos querendo constantemente seu sangue e lhe tirando preciosas horas de sono.

Mas engana-se quem espera um livro de perrengues. Em um texto leve e bem-humorado, Louise mostra um pouco de um canto do Brasil até hoje pouco conhecido, e aplica um olhar mais humano sobre a selva e suas pessoas. Incrustado em exuberantes belezas naturais há um universo de pequenas sociedades onde as distâncias e o isolamento criam comportamentos locais nas relações do homem com o tempo, a natureza, e seus semelhantes.

A viagem deixou como legado uma clínica móvel que atendia povoados remotos, em especial indígenas. Ela foi financiada com recursos levantados após a divulgação da história da viagem no livro “The Impossible Ride”, que em português recebeu o nome de “Amazônia: a viagem quase impossível”, publicado em 1992 pela Totalidade Editora.

Acrescido de um mapa, novas fotos, e prefácio de Renata Falzoni, o livro foi republicado pela Ediventura durante a Shimano Fest 2024, e tem como título  “Transamazônica, a viagem impossível”, e pode ser comprado aqui!

por Guto Zorovich

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